domingo, 1 de maio de 2011

Poema de trabalhador

Acorda José. O dia nem amanheceu e a labuta já te espera.


Alguém já te disse: “Trabalhar é preciso”. Então levanta, corre, olha a hora da condução!

O que? Beijar os filhos, não! Não dá tempo. Fazer um carinho na esposa? Não José olha a hora. Veja como tem gente desempregada, e você ainda quer se dar o luxo de parar? Corre José.

O que? a condução tá cheia? mas não podes esperar o outro... Vai pendurado!

Lembre que o chefe te espera. Lembra da cara dele? É melhor encarar a multidão comprimida num cubículo, que até lembra as gravuras que vc viu, um dia, nos livros de historia. Como é mesmo o nome? Há, lembrei: Navios negreiros.

É José, o balanço da condução é como o dançar da vida. Um passo pra lá, um pra cá ao som da música da sobrevivência de quem está exposto ao acaso "Será que volto", não sei.

O choqualhar das marmitas, não impede o sono de quem não dorme. Nem a fome do pão na chapa com café preto, que aquece a alma e que disfarça a angustia num sorriso de "tudo bem, depois melhora".

Olha aí José. O nome disso é gente. Gente que sonha, que chora, que luta.  Gente que não aparece na televisão como "nossos heróis", mas que assim com você, constrói a duras penas um Brasil de discursos, promessas e imagens. Gente que convive com exclusão de ser gente.

Tudo bem José, pelo menos hoje você está empregado. Seu coração é grato ainda que o patrão faça questão de dizer que “não precisa de você pra nada”. Direitos? Pra que? O que vale é que você tem trabalho. Continue pensando assim, afinal “não está satisfeito pede pra sair”.

Valeu José. Pelo menos hoje, 1º de maio, você tem um nome: Trabalhador.

Vai receber abraços, parabéns e apertos de mão.

Amanhã? Não. Amanhã é dia 2, cuidado para não perder a hora.

O capataz, digo, o chefe, vai estar esperando pra te mostrar onde é o seu "verdadeiro lugar".
 
Ubirajara Oliveira

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